"Nós colhemos o que plantamos, se queremos um mundo melhor, precisamos ser pessoas melhores"

16 abril 2018

Depressão

O mundo gira e muito rápido!
Faz muito tempo que não escrevo e não conto nada, nem falo nada, mas tenho um motivo para  o distanciamento, nesse período fui diagnosticada com depressão e TDAH, foi tenso, mas preciso realmente voltar ao meu mundo..... parece que tive um hiato de vida de 5 anos.
Precisei desse tempo pra me recuperar, me fortalecer e entender o que vinha acontecendo comigo.
Internamente eu estava desejando mudanças na minha vida, principalmente profissional.
Eu sempre sonhei em ser contadora de histórias, e o direito me deu isso por um tempo, porque o processo não é ganho com a melhor lei, ou o melhor argumento jurídico, o processo é ganho com a melhor história contada.
Era incrível ganhar um processo porque você conseguiu passar para o papel tudo o que era necessário.
Ao longo do tempo isso deixou aos poucos de me preencher, e foi ficando um vazio, um vazio tão grande e profundo que foi sendo tomado por um sentimento que sempre existiu, mas estava ali sob controle.
Esse sentimento tomou conta da minha vida, eu já não sentia vontade de levantar, de me arrumar, de viver, já não queria mais contar histórias, já não queria viver nenhuma história, já não queria ser protagonista de nada, queria dormir e sumir.
Minha vida já não era mais minha eu vivi em um ciclo interminável de acordar, arrumar as meninas pra aula, fazer almoço, jantar, arrumar a casa, contando histórias sem graça em processos que eu não queria fazer.
A depressão tomou conta de mim, mas eu forte, durona, sabichona não quis enxergar e demorei muito á buscar ajuda.
Quando busquei ajuda eu estava toda ferrada, com a vida em frangalhos e com medo do futuro, levei á minha médica uma lista interminável de sintomas, e o menor deles era a tristeza, porque ao longo do tempo eu não sentia tristeza, mas uma falta de vontade de continuar.
Muitas vezes eu imaginei a vida das minhas filhas e do meu marido sem a minha presença e conseguia pensar nisso como se tivesse olhando para a vida de qualquer um, imaginava que eles ficariam bem sem minha presença.
Foram épocas de trevas.
Desde criança eu fui diagnosticada com TDAH, mas na época eu era só hiperativa como uma criança que não consegue ficar quieta.
Com a Depressão redescobri o meu TDAH, e passei a me cuidar tanto pra uma coisa quanto para a outra.
Minha médica me aconselhou a encontrar algo que me fizesse feliz, que me desse prazer.
Assim o Ballet entrou na minha vida, era prazeroso, mas eu sempre fui aconselhada a deixar de dançar, porque não tinha coordenação motora, então o ballet me trouxe um pouco de conforto, porque eu tinha coordenação, lógico que jamais pensei em ser a Ana Botafogo, mas isso começou a me tirar do fundo do poço.
Com o Ballet surgiu em mim uma vontade enorme de fazer mais e mais, eu via as formas das bailarinas, eu via os movimentos e queria paralisar aquilo para sempre e assim redescobri a fotografia (redescobri porque eu era produtora gráfica e vivia de fotografia).
Assim minha vida ganhou cores e novos contornos.
Minha filha mais nova que é a pessoa mais apaixonada pela vida que eu conheço decidiu fazer sapateado e não quis fazer sozinha e eu pensei: ahhhh é fogo de palha. mas vou fazer com ela para agrada-la.
Ela realmente parou depois de um tempo, mas eu não, abandonei o ballet, porque o sapateado me agradava muito mais, pois as músicas eram as que eu gostava, os movimentos eram mais despojados e tinha a magia do som do sapato, vi naquilo uma nova luz no alto do poço e queria que essa luz fosse mais forte.
E o amor pela fotografia crescia na mesma velocidade.
Os processos foram ficando cada vez mais escassos, não pela falta de trabalho ou clientes, mas por falta de animo, por me faltar estimulo para continuar.
Hoje a sensação de dançar é maravilhosa, me encontrei como ser humana, aquela que tem defeitos e comete muitos erros, mas que não descansa nunca, porque podemos tentar resolver, ou tentar fazer um passo muito difícil.
Ao longo dessa jornada conheci muita gente e reconheci neles muito o que tinha em mim mesma.
Muitos me chamaram de louca quando eu disse que não queria mais advogar.
Foram 6 anos de faculdade, passei na OAB com nota máxima 9,8 (arredondada para 10), um pai advogado, um marido advogado, um escritório consolidado, muitos processos, mas uma pessoa infeliz.
Decidi realmente mudar minha vida quando meu marido me viu dançando em um espetáculo aberto ao público e disse: Nossa eu quero essa Vanessa que eu vi no palco, foi por ela que eu me apaixonei, há muito tempo não via um sorriso tão sincero seu.
Naquele momento eu que não choro, chorei, porque eu me sentia feliz, como há muito tempo eu não me sentia.
Não era só o dançar, mas a sensação de estar novamente contando uma história, hoje conto histórias com a minha lente e minha câmera, algumas vezes são histórias engraçadas, outras tristes, outras muito felizes, mas sempre há algo novo.
Minha vida sempre foi feita de mudanças e de busca por novos conhecimentos, e o direito me bloqueou, bloqueou meu impulso criativo.
Sou uma pessoa criativa e gosto de contar histórias, hoje gosto de congelar o tempo,e com isso aprendi que cada momento é único e especial.
Aquele abraço que minha filha dá na boneca dela, com tanto carinho e amor logo deixará de existir, logo a Nicole só vai ser uma boneca e não a filha da minha filha e o tempo passou, mas a foto que eu tirei desse momento único sempre vai existir e quando eu olhar aquele momento ele vai me trazer recordações e sentimentos.
Hoje dou mais valor aos momentos.


E a depressão? Ela continua aqui, tem dias que não quero levantar, não quero interagir, não quero viver, mas hoje consigo mesmo nesse momento ver que existe uma luz no alto do poço e que posso sair dele, é fácil? jamais, é duro as vezes a gente se machuca, se rala, se fode todinho, mas consigo ver.
E quando penso em uma maneira de sair, eu quero estar como o meu melhor sapato, aquele com plaquinhas de ferro e com a minha câmera na mão.


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